(...) Depois da chegada vem sempre a partida
Me dei conta de que tem momentos na vida em que trazer para dentro de nós essa lógica, poeticamente colocada na música de Vinícius e Toquinho, pode dar um sentido aos nossos pesares.
A dimensão de tempo entre a chegada e a partida, em alguns casos, é algo que podemos controlar, programar. Está em nossas mãos decidir quando vamos iniciar uma viagem, por exemplo, e quando pretendemos voltar. Assim, nos sentimos donos do nosso tempo, do nosso percurso.
Para outras idas e vindas não estamos no controle, mas existe um intervalo previsível, como é o caso dos fenômenos naturais. Vemos com naturalidade o alvorecer e o entardecer, as subidas e descidas das marés, o prenúncio de mudança nas estações do ano. Seu fluxo é esperado e a repetição dos ciclos dá uma sensação de continuidade, traz sentido a esse movimento.
Já no caso da vida, o tempo entre a chegada e a partida foge totalmente ao nosso controle e também não é previsível. Especialmente na cultura ocidental, encaramos a chegada como o polo positivo e a partida, o negativo. Recebemos com júbilo o que chega, pois é o novo, o que traz expectativa, e com angústia ou tristeza a partida, que é a despedida, a separação.
Temos dificuldade em aceitar a finitude, talvez pela vazio que ela provoca. A ideia de um novo ciclo depende da crença de cada um, mas existe uma lei maior que a natureza nos ensina e que foi captada pelo poeta.
(...) nada renasce antes que se acabe, e o sol que desponta tem que anoitecer.
Ana Helena Reis faz parecer tão facil, escrever bem. Cada crônica dela é um exemplo. Mas não é. Sou fã dessa escritora! GP