“Olhar para criança interior que habita em todos nós é utilizar o olhar do poeta, é voltar às origens. É lá que mora a verdade que os adultos esqueceram ou negligenciaram.” (atribuída a Fernando Pessoa)
Cabelos despenteados, jogados.
Ombros inclinados. Rosto escondido.
Queixo curvado na gola do vestido.
Babado rosado, tecido rasgado.
Pontas enroladas, barras retorcidas.
Janela gradeada, sonha acordada.
Conta histórias, fábulas encantadas.
Calça sapatilhas, dança, rodopia.
Solta trinados, sonidos, chiados.
Vozes solitárias, falas não ouvidas.
Dia e noite misturados, tempos não marcados.
Vento ameno, afago quente, inesperado.
Chuva ruidosa, som do grito aprisionado.
Luz do sol espelhada, vultos projetados.
Visitantes quiméricos, aguardados.
Na parede, refletidas, figuras fantásticas.
Surgem multiplicadas, giram caleidoscópicas.
Castelo dourado da menina rejeitada.
Rainha descalça, abraça as sombras, desvaria.
Deixa entrar o sol pela boca, pelos poros, desnudada.
Coisa de gente adoidada, perturbada.
Incapacitada, acriançada, assim foi julgada.
Do convívio, logo cedo retirada.
No sótão fechado, segue a menina exilada.
Cercada de luz, no seu reino encantado.
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