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Deixar pelo caminho


Arrumando a mala para viajar no final de ano, separei as roupas que iria usar: roupas leves e

confortáveis para o dia, pois vou para o calor, uma opção mais elaborada para o réveillon, traje de

praia, sandálias e uma roupa de caminhada. Enquanto pensava na mala e em como conseguir

selecionar o básico, essencial, aquilo de que realmente preciso, comecei a refletir sobre o que quero

levar de mim para 2025, e o que pretendo deixar pelo caminho.


O ano que passou foi marcado por altos e baixos. Sopros de esperança dissipados rapidamente pelo

peso de nuvens espessas de uma realidade de conflitos e violência, que nublaram o sol pelo mundo

afora e o meu em particular. Mas foram importantes para aguçar meu olhar interior, a consciência do

quanto se acomodar, ser indiferente ao que se passa com quem se abriga na sombra dos becos, é o

mesmo que negar sua existência. Essa luz quero levar comigo para 2025.


Como um Tifão, monstro de cem cabeças que, com seus braços, tocava do Oriente ao Ocidente, as

catástrofes climáticas apavoraram o mundo e me fizeram refletir sobre o quão imperativo é o respeito

à natureza, da qual somos parte integrante. Uma célula desse organismo vivo a que pertencemos

entrou em fúria, clamando por um basta! Fechando o foco para meus próprios hábitos, percebi que,

no quesito ambiental, tenho muito, muito mesmo a mudar na forma de consumo dos recursos

essenciais daqui para frente. Anotado para iniciar uma nova prática em 2025.


E por falar em consumo, o período de isolamento que enfrentamos na Pandemia nos deixou

perplexos em relação à inutilidade de tantas coisas que compramos, acumulamos, desejamos. Para

muitos, como eu, teve um efeito libertador – usar o que tem, o mais confortável, mais despojado, mas

que dê a sensação de “pronta para sair”. Reciclar e reaproveitar foram lemas desse período e foi bom,

muito bom mesmo, mas perdeu um pouco de sua força com o passar do tempo. Uma proposta a

recuperar e aprofundar em 2025.


Sigo então para o próximo ano com a consciência de que é chegado o momento de arear minhas

panelas. Despregar lá do fundo aquilo que algum dia teve sabor, consistência, colorido, mas deixou

resíduos cinzentos que só servem para tirar seu brilho. Adotar um novo cardápio, sentir o frescor, a

leveza, a delicadeza de uma Nouvelle Cuisine.


É hora de lustrar o caldeirão para receber as cozeduras que a vida me reserva

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