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Tempo da ansiedade


Olhou para o celular três vezes, no intervalo de dois minutos. Sentiu uma pontada na têmpora, prenúncio de enxaqueca.  Será que ninguém vai responder? Ou não receberam, deixe checar se aparece o sinal de que a mensagem foi entregue... foi sim, para todos. O que pode estar acontecendo? Acho que não foi uma boa ideia disparar os convites por WhatsApp montando uma lista, para que todos recebessem ao mesmo tempo, alguma coisa deu errado, não é comum demorarem tanto para responder.


Dois minutos – esse é o tempo médio que, hoje em dia, se espera pela resposta quando enviamos uma mensagem, seja esse retorno um texto, um áudio ou mesmo um emoji de agradecimento ou de entusiasmo.

Isso me faz refletir sobre o grau de ansiedade que o avanço da tecnologia, das redes sociais e da comunicação digital nos impôs. Acredito que pouquíssimas pessoas no Brasil não façam uso de um desses recursos, e que não esteja com o celular sempre à mão para não perder a oportunidade de trocar mensagens. E não me refiro somente a conversas de cunho pessoal – marcar a revisão do carro, contratar um serviço para casa, receber resultado de exames de laboratório, fazer compras, tudo isso passa, de alguma maneira, pela comunicação digital.


É a supervalorização do imediato, do instantâneo, de uma dimensão do tempo que é medida em segundos, minutos no máximo. Nos irritamos com a demora nas respostas, mesmo que ela seja de alguns minutos a mais do que a expectativa. Julgamos a eficiência das empresas, por exemplo, pela rapidez de resposta a uma pergunta nossa; o grau de amizade, pelos minutos que a pessoa leva para ler o que escrevemos e responder; nossa popularidade, pelos cliques assim que colocamos algo nas redes sociais. Em contrapartida, nos sentimos obrigados a estar sempre atentos, responder, curtir, retribuir, o que acaba gerando uma ansiedade desnecessária.


Sem dúvida alguma a revolução digital nos trouxe o benefício de uma grande economia de tempo. Tudo pode ser resolvido com dois cliques, mas fica aqui a pergunta para reflexão: a que custo? Será que não estamos amplificando essa ansiedade do imediato para tudo o que fazemos? Será que não estamos perdendo a capacidade de paciência, de contemplação, de recolhimento e de, simplesmente, administrar a vida de acordo com o nosso próprio tempo interno?

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